domingo, agosto 27, 2006

Painel - Renata Lo Prete

Seguro-mandato
A proposta de um pacto de conciliação política, feita por Lula na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, atende a uma preocupação em alta no Planalto e no PT: o medo de que o presidente saia vitorioso das urnas apenas para virar refém do PMDB no segundo mandato, dada a perspectiva de uma base parlamentar ainda mais frágil que a atual.Lula acena para a oposição, notadamente os tucanos-favoritos Aécio Neves e José Serra, na tentativa de estabelecer um contrapeso à voracidade de Renan Calheiros & Cia.
Entre os petistas, a expressão "governar com o PMDB" tem um significado apavorante: perda de cargos na máquina federal.
Integrado.
Tarso Genro (Relações Institucionais), o mais pró-pacto dos ministros, vocaliza o temor petista diante do avanço do PMDB. Além disso, suas atribuições lhe permitem ter uma boa idéia do Congresso que aguardará Lula em caso de vitória.
Apocalípticos.
Já os palacianos Luiz Dulci (Secretaria-Geral) e Marco Aurélio Garcia (Assuntos Internacionais) pertencem à ala do governo que defende abrir espaço ao PMDB e só. Nada de buscar algum entendimento com a oposição, que afinal de contas terá sido derrotada.
O céu...
Enquanto o PT se preocupa, o PMDB afia a faca. A turma de sempre volta a se reunir com Lula esta semana para discutir cargos no segundo mandato. Nelson Jobim, aposentado do Supremo e pós-quarentena, já participa oficialmente das negociações.
...é o limite.
Além das áreas inteiras do governo que reivindica, o PMDB já fala em disputar a presidência da Câmara, sem prejuízo de manter a do Senado, escorado na expectativa de eleger a maior bancada de deputados.
Pré-pago.
Quem conhece Lula de longa data afirma que o presidente tem sido pródigo no socorro a Aloizio Mercadante, nas ruas e na televisão, com uma intenção clara: evitar que o senador peça compensação demasiadamente ambiciosa caso perca a eleição para o governo de São Paulo.
Tampão.
Aliados de Lula dizem que a antecipação do 13º salário dos aposentados foi decidida, entre outras razões, como forma de retardar uma bomba prestes a explodir: a inadimplência entre os que aderiram ao crédito consignado, uma das atrações da campanha reeleitoral.Norte a Sul. Com as passagens por Acre e Rondônia neste fim de semana, Geraldo Alckmin terá visitado todos os Estados. O marco será lembrado na TV para mostrá-lo como candidato "nacional".
Rebaixado.
No Ceará, onde o candidato do PSDB é pró-Lula, Tasso Jereissati apóia o irmão de Ciro Gomes (PSB), e Heloísa Helena (PSOL) está em segundo, Alckmin ganhou o apelido de "Plutão".
Ídolo.
Ciro é astro no horário do irmão, Cid. O ex-ministro debate temas de governo, faz propostas e rebate ataques. O tucano Lúcio Alcântara estuda ir à Justiça para tirá-lo do espaço do adversário.
Clone.
Em comícios, Roseana Sarney (PFL) pede votos para si, para aliados e daí pergunta: "E para presidente?" A resposta é sempre "Lula". O slogan de sua campanha ao governo do Maranhão copia o do petista: "A força do povo".
Draconiano.
Deficiente visual, o deputado estadual Rafael Silva (PDT-SP) foi impugnado pela Justiça Eleitoral porque usava óculos escuros na foto que iria para as urnas.
Nas bancas.
Empresários paulistas fizeram o piloto de um álbum de figurinhas com mensaleiros e sanguessugas que faria parte de campanha contra o voto nos acusados. A idéia foi abandonada por medo de processo judicial.
Tiroteio
Pelo menos no Ceará Tasso Jereissati vai ganhar a eleição. Só que com o candidato do Lula.
Do deputado DR. ROSINHA (PT-PR) sobre a ciranda eleitoral no Ceará, onde a disputa passou a ser liderada por Cid Gomes (PSB), apoiado por Tasso, presidente do PSDB, partido do candidato Lúcio Alcântara.
Contraponto
Poltergeist
Em seu primeiro ano no Planalto, Lula era um poço de queixas contra o "Sucatão", avião herdado de governos anteriores. Certa feita, contam Eduardo Scolese e Leonencio Nossa no livro "Viagens com o Presidente", um assessor militar tentou contemporizar:- Presidente, mas as coisas funcionam. A TV é boa.Lula respondeu de bate-pronto:-Boa nada. A gente querendo fazer a reforma trabalhista, e você tentando manter uma TV da época do Getúlio!Lula arrematou:-Esta TV é tão velha quanto a do Alvorada. Outro dia desisti de assistir a um filme porque os canais mudavam sozinhos. Não precisava nem de controle remoto!

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segunda-feira, agosto 21, 2006

Jornalistas apostam na reeleição de Lula

Para 54% dos jornalistas brasileiros, as chances do presidente Lula ser reeleito são acima de 60%. A informação é da sétima pesquisa com profissionais da imprensa feita pela Macroplan, empresa de consultoria. O estudo entrevistou cem jornalistas de sete estados do País (Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Pernambuco) com maior visibilidade na mídia, "seguindo critérios qualitativos e não estatísticos de representatividade", segundo o anúncio da companhia. A pesquisa revelou também que 45% dos entrevistados avaliam que a probabilidade de um segundo mandato de Lula tem entre 40% e 60% de chance de acontecer. Apenas 1% acredita que é abaixo de 40%.
Na avaliação do primeiro semestre do ano os jornalistas atribuíram nota 4,8 ao governo Lula, em uma escala de zero a dez. O melhor desempenho do governo foi na condução da política econômica, considerada muito boa ou boa para 90% dos entrevistados. O combate à fome e à pobreza e a geração de empregos foram avaliadas positivamente por cerca de 60% dos entrevistados.
Entretanto, nem tudo no atual governo recebeu elogios. Noventa e cinco por cento dos jornalistas avaliaram negativamente as estratégias de combate à violência e à insegurança pública. Oitenta e um por cento consideraram que os principais problemas do governo federal são a formação de alianças e negociação e solução de crises políticas. Apenas 48% opinaram favoravelmente sobre a política externa contra 96% de pesquisas anteriores.

Avaliação dos Ministros
Somente Luis Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, manteve a mesma avaliação positiva da pesquisa anterior. Ele foi considerado o melhor ministro por 55% dos entrevistados. Guido Mantega, ministro da Fazenda, alcançou 47% (quase metade dos 81% que seu antecessor, Antônio Palocci, obteve). O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues obteve 34% de aprovação, mais do que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef (28%).
Os piores desempenhos são os dos ministros da Saúde, José Saraiva Felipe, e Miguel Rosseto, do Desenvolvimento Agrário: 31%. Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, que era o quinto melhor avaliado, teve uma avaliação negativa nessa pesquisa e ficou em terceiro lugar no ranking dos piores (27%). Na quarta colocação está o ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos (24%).

Avaliação dos Governos Estaduais
Se na pesquisa anterior, 77% aprovaram o ex-governador Geraldo Alkmin, nesta 46% consideraram a gestão de Cláudio Lembo ruim ou muito ruim. Aécio Neves continuou como o melhor governador com índice de 91% de aprovação (em 2005, obteve 81%).
O pior desempenho foi, pela sétima vez consecutiva, da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus. A pesquisa está disponível aqui.

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O caixa 2 vai bem, obrigado

Guilherme Fiuza

Todo mundo reclama dos corruptos, mas a receita para o Brasil dar errado tem sido garantida, cada vez mais, pelos homens de bem.
Na política, o inferno das boas intenções está lotado. Não cabe ali nem mais uma formiga, nem mais uma lei – os bem intencionados adoram resolver os males do mundo com uma lei.
Os brasileiros não aprenderam nada com a jornada delirante da Constituinte de 88. Já são quase 20 anos daquele sonho de proibir a alta de juros com um artigo na Carta Magna, e de salvar a democracia espalhando novos municípios por todo o território. Chato não é constatar o desastre da utopia. Chato é verificar que o desastre não ensinou nada.
Os brasileiros assistiram ao show de Marcos Valério e Delúbio Soares, em suas coreografias arrojadas para transferir dinheiro público para partidos políticos. O que se fez contra essa promiscuidade do Banco do Brasil, dos Correios, da Caixa Econômica etc com os interesses privados dos políticos que estão no poder? Absolutamente nada.
Como é de costume, a opinião pública se hipnotizou com o debate errado, e foram todos discutir o caixa dois nas campanhas políticas – um problema secundário diante do mensalão e do assalto às instituições públicas. Para piorar, as medidas discutidas (sempre as mesmas) são aquelas que só solucionam alguma coisa na cabeça abstrata dos guardiões da ética.
Eles amam, por exemplo, o financiamento público das campanhas – essa incrível miragem que promete revogar a influência do poder econômico com a simples distribuição aos políticos de dinheiro do contribuinte.
Essa aritmética do crioulo doido acabou forçando uma mudança de regras para a eleição 2006. Com o objetivo de baratear as campanhas, e com isso reduzir o mercado negro das doações, proibiu-se várias formas de publicidade eleitoral. Raciocinaram os éticos: se os candidatos não puderem anunciar em outdoor, por exemplo, ninguém vai se sentir em desvantagem e esse item desaparecerá do orçamento das campanhas.
O único problema do mundo maravilhoso dos bem-intencionados é sua distância da vida real. E na vida real, um candidato a cargo público precisa se dar a conhecer ao eleitor – de preferência, da forma mais intensa possível. E o limite dessa intensidade jamais poderá ser controlado por uma lei. Conseqüência óbvia: explodiu o mercado de compra de espaços nas fachadas de residências e propriedades particulares.
E aí está um gasto que quase sempre é informal, contratado de boca e sem recibo, ou seja, o paraíso do caixa dois. Não pode propaganda fixa em local público? Não tem problema. Os candidatos estão pagando exércitos de seguradores de faixas e bandeiras, para mofar nas esquinas da cidade exibindo seus nomes e números. Alguém acredita que o pagamento a essa mão-de-obra desqualificada freqüenta disciplinadamente os livros-caixa? Com recibo?
Em lugar dos brindes, também proibidos, surgem presentinhos de vários tipos, freqüentemente mais caros, para compensar na memória afetiva do eleitor a falta da marca do candidato. Não se pode pagar cachê a artista para fazer showmício? As campanhas multiplicam seus gastos com panfletos, santinhos, soldados do spam, enfim, tudo que possa passar adiante a mensagem que não pôde ser transmitida singelamente de um palco em praça pública.
Os éticos conseguiram. O combate ao caixa dois tornou-se o maior fermento do caixa dois. De quebra, a propaganda política vai ficando cada vez mais truncada, dura, distante dos hábitos normais das cidades.
Sem sentir, esses “progressistas” se aproximam cada vez mais do ideal da ditadura, em que o candidato divulgava suas “idéias” com pouco mais do que um cartaz de procura-se, um slogan e um número.
Depois esses democratas de almanaque vêm reclamar do voto nulo.

comentário: só discordo dessa última frase, democracia é ter a opção de votar ou não, mas omitir-se é *não* ser democrático, por isso sou contra esse movimento pró voto nulo.
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quinta-feira, agosto 17, 2006

O mito do voto nulo - Jayme Copstein

Fico pensando no erro grotesco, cometido quando se erradicou do currículo escolar e universitário, o estudo da organização social e política do Brasil. Foi feito sob o pretexto de ser mera doutrinação do regime militar, sob o rótulo de Estudos de Problemas Brasileiros.
Não se tratava de nada original. Ao tempo do Estado Novo, a cadeira de Moral e Cívica era até mais descarada. Não doutrinava o que quer que fosse, apenas endeusava o “chefe na Nação”. O nosso fundamentalismo costuma demolir prédios inteiros para consertar apenas algumas goteiras do telhado. Em vez de redefinir os objetivos e conteúdos da matéria, o que se fez foi deixar de lado noções vitais para o exercício da cidadania. De pouco adianta cantar o hino nacional com ar solene quando se ignora o que é o país, como ele funciona, como o cidadão pode manifestar sua concordância ou discordância, para preservar o que quer e eliminar o indesejável.
A conseqüência é a crassa ignorância do brasileiro sobre o processo político do qual ele é agente, mas o qual ele vê como se tratasse de um clube de futebol. Assiste as partidas sem ser sócio, apenas paga entrada e porque pagou entrada, julga-se com o direito de xingar a mãe do juiz, chamar o técnico de burro, dizer palavrões à diretoria e até depredar o estádio. Ingressar em um partido político, falar, debater, arregimentar pessoas que pensem como ele, intervir nas convenções para escolher ou influir na escolha de candidatos, é com os outros, aqueles a quem xinga, não com ele. Resultado desta alheamento, corre no país uma campanha que, segundo as pesquisas, não chega a engajar mais que 15% dos eleitores, pregando a inutilização do voto para anular o pleito. O alarmante não é a campanha em si porque é da democracia defender-se idéias que a cada um bem aprouverem, mas o desconhecimento que a sua prática implica mais do que ser mero torcedor de arquibancada, confortavelmente instalado em um par de folgadas bermudas e com o pandulho entupido de cerveja.
O alarmante é a origem da campanha. Não nasce nem é alimentada por analfabetos, mas por pessoas que, supostamente, deveriam ter um mínimo de conhecimentos para justificar os diplomas universitários de que são portadores ou fazem parte daquela importante fração da comunidade que antigamente recebia o nome de classe produtoras. Notável, também, é a omissão da Justiça Eleitoral para esclarecimento diante da campanha que já há tempo rola pela internet e está iludindo alguns incautos. A lei fala no reconhecimento de eleições onde sejam computados 50 por cento e mais um dos votos válidos. Como o eleitor hoje, no Brasil, não tem como anular voto, pois ele não tem mais cédulas para nelas escrever piadinhas, desenhar obscenidades ou misturar nomes de partidos adversários, o máximo que pode expressar claramente é que não deseja votar em ninguém, ou seja, quer se abster da sua cidadania. Apertar a tecla nulo é claramente isso. Haver uma tecla com este nome, e também uma para o voto em branco, quando bastaria “abstenção”, é um uma demasia com todo o jeito de piada.
O que pode anular a votação, não o voto, são irregularidades, bem expressas em lei, e nesse caso sim, se as urnas anuladas contiverem 50% mais um dos votos válidos, deverão convocadas novas eleições.
O Judiciário bem poderia esclarecer esta questão. Mas não o faz por uma simples razão: é que nunca aconteceu e, na prática, as possibilidade de que venha a ocorrer são nulas. Como o Judiciário só atua se acionado, e não o será nunca, em vez da resposta, só alimenta mais um mito e contribui para agravar a séria crise em que o país se afoga.

domingo, agosto 06, 2006

CLÓVIS ROSSI - Já morreu

Fidel Castro morreu, como modelo a ser seguido, muito antes de seu ocaso biológico que está se dando agora. O último grande líder político do século 20, para o bem ou para o mal, continua um mito, mas a revolução cubana já não é inspiração, salvo para um punhado de fanáticos. A prova está dada, paradoxalmente, pelos dois presidentes que têm em Fidel seu ídolo e seu padrinho: Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia). Chávez não chamou sua revolução de "castrista", "fidelista", "cubana" ou qualquer outra qualificação que lembrasse a ilha caribenha. É "bolivariana", de Simón Bolívar, que antecede qualquer ícone socialista. Evo Moraes retrocedeu ainda mais no tempo, e seus heróis antecedem até Cristóvão Colombo. É verdade que ambos utilizam especialistas cubanos (médicos e educadores em especial), mas é só. Por mais que Evo tenha nacionalizado os recursos naturais e por mais que Chávez tenha dado alguns passos estatizantes, o fato é que Bolívia e Venezuela continuam sendo economias de mercado, ao contrário de Cuba, um dos últimos refúgios comunistas do planeta, ao lado da Coréia do Norte. Também ao contrário de Cuba, as instituições funcionam na Bolívia e na Venezuela, os partidos são livres, a mídia, idem, há eleições regulares (atestadas como "free and fair" por observadores internacionais). Há tentações autoritárias? Sempre há. Mas elas aparecem também no governo da grande democracia do norte, os Estados Unidos, na esteira dos atentados de 11 de Setembro. Presos políticos, como em Cuba, não há. No Brasil, nem o PT, o partido que tem mais admiradores de Fidel do que qualquer outro no planeta, fora o PC cubano, roça qualquer coisa que tenha leve sabor cubano. No ocaso, Fidel e o "castrismo" não têm futuro. Só passado.