domingo, novembro 04, 2007

A mediocridade da eficiência

FERNANDO BONASSI FSP -
04 de outubro de 2005


Considerando que a mediocridade da eficiência é uma tendência que tem norteado as decisões desnorteadas de administradores, capatazes e patrões, convém que se esclareça para sua cabeça: a mediocridade da eficiência se justifica pela necessidade de lucratividade avantajada, rentabilidade ilimitada e incompetência generalizada. Não importa se os acionistas interesseiros permanecerão vivos entre os pobres traiçoeiros que lhes espreitam à saída das festas, premiações e casamentos. A mediocridade da eficiência é mais importante do que a vida de meia dúzia de burgueses ignorantes, por mais inocentes ou tratantes que sejam em seus desejos ou dejetos. Trata-se de uma teoria econômica radical: "Se é economia essa porcaria, é para economizar na limpeza, oras!".
Claro que os filósofos materialistas não se cansam de espalhar no ventilador da História para onde se dirigem esses recursos que, no curso da memória dos acontecimentos, financiam campanhas de desesperança e a desmoralização dos sonhos de mudança, que esses socialistas concursados teimam em plagiar dos anarquistas marginalizados.
A mediocridade da eficiência é uma religião que abençoou a preguiça da razão! Não transforma, transtorna; não goza, "tira um sarro"; não cria, esgota. É enxuta como a cintura de uma prostituta de dieta; direta como um atropelamento e objetiva em suas assertivas para não dar tempo ao tempo dos pensamentos subjetivos que insistem em atrapalhar os resultados almejados.
A mediocridade da eficiência é mesmo uma ciência exata como um tapa: dá, por exemplo, com a mão dos salários aquilo que só os otários podem suportar e tira com a dos impostos, descontos e taxas o que termina por bancar a impostura dos assessores professores, seguranças contratados, motoristas turbinados e demais dependentes do seio esplêndido em que mamam por gerações, sem desocupar nossas preocupações quanto à saúde dessa mãe sugada, abatida e condenada à dupla jornada.
Já que nem todos têm a possibilidade de se tornarem cidadãos de verdade, que permaneçam arrochados, esquecidos ou simplesmente excluídos, varridos das grandes centros para o limbo das periferias, onde podem se atirar uns contra os outros, numa brincadeira suicida que só a juventude tem o saco roxo para participar.
Claro que numas horas dessas também podem fumar ou cheirar qualquer coisa de arrepiar a espinha para se esquecerem da sina de nem enxergar o que pode lhes acontecer. Mas a mediocridade da eficiência está presente em todas as classes de pessoas, amigos e parentes. Está na elite de velhacos que acumula e nas mulas que se açoitam como escravos. A mediocridade da eficiência está nos modelos de gerência onde é preciso poupar inteligência para dar um mínimo de indecência à maioria das aposentadorias duplicadas, viagens e vantagens oferecidas em surdina, além dos cargos amealhados de sacanagem na comissão por porcentagem.
A mediocridade da eficiência é uma saliência que administra por impulso do pulso de regredir, de guardar dinheiro, seja nacional, seja estrangeiro, que aliás é mais forte e, já que não tem pátria, costuma-se preferir.
A mediocridade da eficiência considera o planejamento uma perda de tempo ou que tempo é uma velocidade de cruzeiros, e isso não tem nada a ver com previsão, mas com revisão, divisão e subtração.
A mediocridade da eficiência empata o débito com o crédito numa contabilidade de analfabetos, uma vez que a educação parece ser um prejuízo lamentável à nação, conforme atestam as dotações de um orçamento que até parecem doações, ou excremento, com o que destinam ao desatino do futuro.
A mediocridade da eficiência advoga a repetição, a continuidade, a concentração. Não pode imaginar a imaginação no poder!
A mediocridade da eficiência é que garante a inocência dos culpados, que podem ser alocados em serviços terceirizados, constrói conjuntos habitacionais comunistas para deleite da mais-valia dos empreendedores vigaristas, ergue as pontes que desabam e os prédios que despencam e forja as sentenças com que se penam ou se apiedam...
A mediocridade da eficiência facilita as coisas, dá um jeito no jeitinho e se contenta com o pouquinho que a sustenta, embalando as sobras para os sacoleiros que obram por malas recheadas de sujeiras afanadas e criando paraísos fiscais de facilidades gerais para ilhas de miséria infernais. A mediocridade da eficiência se alimenta de orçamentos retalhados, juros elevados e diplomas saturados de méritos e inutilidade. A mediocridade da eficiência torna todos meio especializados nos ínfimos inexplicáveis de todos incompreensíveis! É a mediocridade da eficiência que põe armas inteligentes nas mãos de soldados destemperados, destreinados ou burros mesmo.
Fecha salas de aulas com poucos alunos, desconsidera a experiência da velhice e a inocência das crianças, cujas naturezas improdutivas incomodam os ativistas credenciados por mercados em expansão ou explosão terrorista...
A mediocridade da eficiência é, assim, democrática à sua maneira: oferece igualdade aos desiguais, fraternidade aos estranhos demais e liberdade para escolher quais os locais onde os indigentes vão querer cair para morrer. Envolve a todos os reprodutivos num conluio ativo para paralisar ou privatizar o que está em movimento, o que há de novo ou o que é criativo.
Tudo é feito para ficar bem fundo. Afundar a ousadia do mundo.