sábado, setembro 23, 2006

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CLÓVIS ROSSI "Insanos", mas trambiqueiros
Impregnado até a alma pela cultura do trambique, o lulo-petismo não pára de fabricar dossiês, mesmo depois de apanhado com a mão na massa, a ponto de sete homens de confiança do partido/governo caírem um após o outro, em seqüência raramente vista em qualquer país civilizado. O dossiê do momento é a insistência de dirigentes do partido, inclusive de Aloizio Mercadante, em que o importante é investigar o outro dossiê, aquele que os "insanos" do PT, para usar qualificação de Lula, queriam comprar. É curioso, aliás, que Mercadante demita graduado assessor seu, por estar envolvido na sordidez, mas diga que é preciso investigar o dossiê cuja fabricação é parte da sordidez que o levou a afastar um dos seus próximos. Ou o assessor prestou um serviço público e, portanto, teria que ser promovido, em vez de demitido, ou fez sujeira e gente de bem não se mete com sujeira. Mas é a índole petista: quando apanhados em flagrante, culpam "conspiração da mídia", vêm com o ridículo da "fantasmagoria" (como se dólar na cueca não fosse uma realidade concreta, apalpável) e jogam lama sobre todos. Seus crimes não são importantes; os dos outros, sim, mesmo que não saibam se existem ou não. Dossiê fabricado para venda é, por definição, descartável. Dossiê aceitável seria o da CPI (que nada apurou neste caso específico) e/ou uma investigação do próprio governo sobre a gestão do antecessor. Se a tivesse feito, e se ela apontasse algum envolvimento de José Serra (o verdadeiro alvo do dossiê), aí, sim, teriam que ser tomadas todas as providências. O diabo é que a investigação atrapalharia os sanguessugas do próprio PT e de partidos aliados, estes sim apanhados pela CPI. O PT não perde o vício de patrulhar o mundo. Mas, agora, é tempo de prestar contas. À polícia.

FERNANDO RODRIGUES - O escravo das "qualis"
Com um teleprompter à sua frente, Lula discursou: "Eu sou o maior interessado em apurar o que aconteceu nesse negócio do dossiê. Eu quero saber de onde veio o dinheiro, sim. Eu quero saber toda a tramóia que houve. Mas sobretudo eu quero saber que diabo de conteúdo que há nesse dossiê que pessoas cometeram a enroscada que cometeram".O presidente foi adestrado para repetir em público o que os seus eleitores fiéis têm falado nas chamadas "qualis", as pesquisas qualitativas -quando um grupo de eleitores fica numa sala discutindo enquanto especialistas atrás de um espelho falso observam tudo. As "qualis" mostram que os eleitores das classes C, D e E não entendem direito o caso do "dossiegate". Muitos nomes. Gedimar, Valdebran, Freud e até um homônimo de marca de chuveiro. Os eleitores lulistas perguntam sempre "que dossiê era esse" e acham que o governo "não pode jogar para debaixo do tapete". É o que Lula repete agora toda vez que aparece em público. Ao se tornar um escravo das pesquisas qualitativas, Lula tomou um rumo claro nesta reta final. Antes do "dossiegate", o petista sonhava em ter a maior votação da história num primeiro turno -o recorde é de Eurico Gaspar Dutra, que, no longínquo 1945, foi eleito com 55% dos votos válidos. Abalroado pela crise atual, Lula está agora apenas preocupado em manter os seus eleitores mais fiéis. Retroalimenta esse grupo com os argumentos que eles gostam de ouvir. Quer dessa forma tentar estancar uma eventual sangria de votos quando o caso avançar com a divulgação da origem do dinheiro sujo usado na operação. É impossível prever se Lula terá êxito. Mas até ele já parece saber que sua vitória, se vier, pode ser menor do que a esperada.

ROGÉRIO GENTILE - Passeio de cadela
DELÚBIO SOARES era íntimo de Lula. Caiu, silenciou e até hoje vive numa boa -livre, leve e, principalmente, solto. Nunca entregou ninguém. A pergunta arranha a garganta: como ele paga, atualmente, suas próprias contas? Waldomiro Diniz era amigo de José Dirceu. Caiu, silenciou e também segue tranqüilo. Nunca entregou ninguém, assim como tampouco viu o sol quadriculado. A garganta arranha de novo. Na República da Companheirada, valem os mesmos princípios descritos por Tommaso Buscetta em suas confissões: os "uomini d'onore" jamais falam de coisas das quais sabem que não devem falar. Em compensação, gozam do apoio e da solidariedade dos demais. Delúbio e Waldomiro são apenas dois exemplos notórios no PT. Desde o início do governo do companheiro-mor, os escândalos se multiplicam, e os envolvidos, idem. Mas, tirando Rogério Buratti, que, convenhamos, tinha razões emocionais para tanto, ninguém nunca atirou, de fato, para cima. Todo mundo "matou no peito" -com o perdão pela metáfora futebolística, tão usual neste governo. Não será diferente agora, acredito. Nem mesmo Freud Godoy, o sujeito que se apresentou à Polícia Federal com cara de suspeito acuado -barba por fazer, agasalho puído e cigarro entre os dedos-, deve falar algo de concreto. Não teremos no PT, acho, um Freud Buscetta. No máximo, se não tiver mesmo como negar sua atuação no escândalo da compra de testemunho e de acusações (e, quem sabe, da supressão de provas contra petistas), dirá que fez tudo por conta própria. Claro, o colega de caminhada e de futebol, faz-tudo do Planalto, ajuda o companheiro-patrão, mas não precisa dizer aonde leva a cachorrinha da família para passear quando ela quer fazer cocô. Não precisa porque tem autonomia de vôo, digo, de passeio de cadela. Freud conhece Luiz Inácio desde os anos 80. Foi seu segurança em campanhas, morou por alguns meses na residência oficial do Palácio da Alvorada e tinha a incumbência de organizar as "peladas" na Granja do Torto -era ele o encarregado de convidar os jogadores. É tão próximo do presidente que, sabe-se agora, teve o prazer de manter relações comerciais com Marcos Valério. A sua empresa de segurança recebeu, em 2003, R$ 98,5 mil de uma agência de publicidade do operador do mensalão. Com sua demissão da Secretaria Particular da Presidência, a pergunta arranha a garganta mais uma vez: como ele pagará suas contas?

Em meio ao escândalo, Alckmin protagonizou a nota cômica da semana. Mirando em Lula, disse que "governo que é Jader Barbalho e Ney Suassuna não pode dar certo. Está cercado de um submundo da política terrível". FHC que o diga.