domingo, setembro 03, 2006

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São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

VINICIUS TORRES FREIRE
A fantasia luliana do PIB

Governistas não temem desmoralização das profecias de crescimento porque, por ora, "país dos pobres" vai bemNÃO SE ESPERA que um presidente diga que a economia do país que governa esteja à beira de tropeçar no brejo. Afora o irrealismo óbvio da expectativa, o pessimismo pode ser contagioso e contraproducente. Mas por que Lula não teme a desmoralização contínua de suas juras de crescimento? Para atingir a meta luliana de crescer 4% neste ano, a economia precisaria acelerar, andar a uma velocidade quatro vezes maior que a do trimestre que passou. Não é impossível, embora muito improvável, e o problema nem é esse. Profecia sobre números de curtíssimo prazo, como o PIB trimestral, com minúcias obsessivas sobre décimos de porcentagem, é propaganda ou coisa pior. Lula e ministros se entregam ao desfrute ignorante ou politiqueiro de fantasiar a numeralha econômica porque conhecem ao menos o eleitorado. Quem vai entender discussões sobre médio prazo, bens de capital e penetração de importações? O eleitorado pobre vive por ora em um país estatístico em que a renda cresce muito. Problemas estruturais são uma abstração -por ora. O resultado do PIB foi muito ruim. Não implica desastre, mas indica que a economia enfrenta problemas nada triviais. A quantidade de importações cresce, o ritmo de aumento de exportações caiu a um quarto do que era havia um ano, por conta da invasão chinesa e do real forte: câmbio. O resultado do comércio exterior foi fator maior na queda do crescimento. Mas o nível de investimento também caiu, de modo surpreendente. Tem sido volátil, o que indica razoável indecisão de empresários (afora a pressão do câmbio). Sobre o resto do ano, o resultado da indústria paulista em julho, que também saiu ontem, já prejudicou alguns otimismos para o terceiro trimestre. O chute menos temerário para o PIB do ano ora anda em torno de 3%. Afora todos os defeitos crônicos da economia (impostos, dívida, burocracia e pouco comércio externo), tais problemas resultaram de ações deliberadas do governo, ainda que Lula fosse ignorante do alcance delas. A meta de inflação baixa demais, fixada em 2005, exigiu juros mais altos por mais tempo, o que encareceu o produto nacional. No curto prazo, ao menos, isso afeta a contribuição do comércio externo ao crescimento. O caso fica pior devido ao bem-sucedido plano chinês de tomar o mercado mundial de manufaturas. O aumento do gasto corrente do governo Lula limita o investimento público. Inflação baixa e salário mínimo maior (que é gasto público) melhoram a vida do povo. A dita "demanda doméstica", em especial consumo privado e do governo, cresceu no semestre a uns 4%. Mas em troca de gastos e juros altos pode se estar destruindo indústrias, transferindo investimentos para o exterior e consumindo já o que poderia ser crescimento mais duradouro amanhã. O problema político da economia é saber se Lula, reeleito, vai continuar a fantasia nutrida de populismo cambial "cum" bolsa-esmola, atualização do populismo tucano. Há três anos, diante dos metalúrgicos de São Bernardo, Lula prometeu o "espetáculo do crescimento". Seu programa eleitoral agora diz que o "nome do segundo mandato será desenvolvimento". Como também o dizia FHC. Será uma maldição?


São Paulo,domingo, 3 de setembro de 2006

CLÓVIS ROSSI
12 anos de fracasso

SÃO PAULO - Doze anos de política econômica tucano-lulista é tempo suficiente para uma olhada em seus números em campo crucial, o do emprego. Todos os dados que se seguem são do livro "Brasil: Estado de uma Nação", editado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, conforme resumidos na excelente revista "Desafios do Desenvolvimento", também do Ipea.
Vamos lá: FHC assume o país com o desemprego em 6,7% da população economicamente ativa.
Entrega-o a Lula com 9,9%. Lula eleva-o para os 10% ou pouco mais em que se encontra hoje. Entre jovens de 15 a 24 anos, o desemprego pulou de 35% para 40% a partir de 2001 e ficou por aí desde então. Alguma surpresa com a explosão da criminalidade entre os jovens nessa faixa etária? Além disso, mais da metade dos trabalhadores brasileiros não tem emprego formal (51,2% em 2004, último ano tratado no livro). Dita assim, de passagem, a palavra informalidade pode soar até simpática, lembrar um certo "à vontade".
Mas, na vida real, "o setor informal gera empregos de baixa qualidade e remuneração, constituindo um atraso, uma distorção a ser combatida. Tem efeitos deletérios no longo prazo, na medida em que cerceia a expansão de companhias mais eficientes e que respeitam a legislação", diz Lauro Ramos, pesquisador do tema no Ipea.
Creio que é dispensável, por óbvio, falar também dos baixos salários que se pagam no Brasil. É também óbvio, mas vale lembrar que, sempre de acordo com os dados do Ipea, 72% da renda dos domicílios brasileiros provêm dos vencimentos do trabalho.
Conclusão inescapável: esse modelo de política econômica é, no mínimo, insuficiente para criar condições de vida ao menos razoáveis. Mas é também o único com chances de vencer no mercado eleitoral. Azar do Brasil.