segunda-feira, junho 04, 2007

Por uma Operação Guilhotina

Fritz Utzeri, jornalista (JB - 03 de junho de 2007)


É triste saber que toda uma geração de brasileiros, hoje com 25 anos, jamais viu o Brasil crescer. A constatação é do ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso, um homem que serviu à ditadura, mas saiu moralmente incólume da experiência e que, além disso, até hoje pensa o Brasil, organiza seminários para tentar entender o que há de errado conosco.
São 25 anos que nosso país marca passo, crescendo em média 0,6% ao ano (5% seria o mínimo para absorver apenas a mão- de-obra que chega ao mercado de trabalho), ou até anda para trás. Os jornais, os noticiários não falam de outra coisa que não seja corrupção, crime e violência. Abrir o jornal ou assistir aos noticiários da TV se transformou num exercício diário de masoquismo.
Um desalento crescente vai tomando conta dos brasileiros que constatam que a corrupção e a falta de vergonha de nossas elites atingem o patamar do insuportável. Não contentes em roubar, pilhar, saquear, agora escarnecem da opinião pública (será que isso existe no Brasil?), tripudiam, espezinham e fazem pouco caso de nossa indignação, tomam-nos por imbecis (que somos), crescem felizes e soberbos e prosperam na maior impunidade, com a cobertura e o beneplácito da Justiça e da força.
De nada adiantam as operações espetaculares da Polícia Federal (em grande fase, malgré tout), mas o que está errado é a lâmina usada. O Brasil não precisa de "Operação Navalha". Navalha é lâmina de malandro e de malandros andamos todos fartos até o nariz. A única maneira de o povo ser respeitado (e temido), por essas elites sem vergonhas e predadoras é mudar a lâmina com urgência. Sai a navalha e entra a guilhotina. O Brasil precisa é de uma "Operação Guilhotina" para que se estabeleça um mínimo de respeito e moralidade no trato da coisa pública.
E não estou sendo metafórico ao me referir à guilhotina, estou sendo literal, falo da engenhoca - criada pelo doutor Guilhotin - que decepa cabeças com uma eficiência até hoje não igualada. Mas para isso seria preciso que o povo saísse da apatia e fosse às ruas movido por uma justa revolta. O problema é que somos bonzinhos demais, pacientes demais, covardes demais e imaginem outras "qualidades demais" que herdamos de nossos antepassados escravos e escravocratas, para constatar a impossibilidade de tal hipótese. A revolta no Brasil é cega, não dirigida, caótica e se materializa numa violência geral e indiscriminada que não leva a nada, salvo a um clima de medo e insegurança gerais, contribuindo para reforçar a alienação e o domínio da cleptocracia.
Os últimos levantamentos divulgados sobre a corrupção assustam. Segundo o próprio Ministério da Justiça, o Brasil perde entre R$ 25 bilhões e R$ 40 bilhões anualmente - um total maior do que a verba do Ministério da Saúde, devido à corrupção, e isso apenas no setor das licitações, ou seja, esse dinheiro vai para o bolso de quadrilhas (como a da empreiteira Gautama) que se organizam para combinar preços entre si e assaltar a bolsa da viúva. Esses cartéis de empreiteiros acabam provocando um sobrepreço de 40% nas obras públicas.
Como aqui não temos a mais remota esperança de que os corruptos virem japoneses e comecem a se suicidar em massa (ia ser uma carnificina), esperamos pelo menos que algum dia sejam aplicados outros métodos mais "modernos". Atualizando a proposta da guilhotina, as coisas só tomarão jeito entre nós, reduzindo a incidência da corrupção, no dia em que as famílias dos corruptos (corrompidos ou corruptores) pagarem pela bala...

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